segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Para telefonar, temos de ir à escola.



No verão, para telefonar temos que ir à escola. Só lá é que temos sinal no telemóvel.
Costumamos ir em grupo à noite, com vontade de saber as novidades dos amigos e da família. O percurso é feito às escuras, apenas iluminados pelos dois candeeiros que esbranquiçam as folhas dos carvalhos e o caminho de granito na nossa pequena viagem pela noite escura.
Sinais electrónicos surgem dos aparelhos à medida que vão sendo alimentados de rede e nos aproximamos do local onde os risquinhos da bateria atingem o maior número possível, três em cinco...
As faces iluminam-se na aproximação dos aparelhos ligados às vozes de gente conhecida... e ficamos ali a falar cada um para seu lado, no escuro... e no ar milhares de insectos, atraídos pela luz, curiosos com a presença desta gente estranha.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

A brincar com PHOTO BOOTH


Eu reparei no reflexo do computador, que a Alice se tinha afastado um pouco...
Ela já é uma teenager...

sexta-feira, 11 de junho de 2010

CARBO SIDRAL A BEBIDA GENIAL


Bebi a minha primeira Carbo Sidral uma vez que fui à Polícia Judiciária.
Não tinha feito nada de mal... acho que tinha ido tirar o bilhete de identidade e o meu tio Baptista trabalhava lá. Como estava a viver com a minha Tia à pouco tempo e nós sabíamos pouco sobre ele, achou que me devia convidar para ver o seu ofício e assim estreitar os laços familiares. Mostrou-me os gabinetes dos inspectores, as prisões, as salas dos interrogatórios, os ginásios, o refeitório, etc, etc... mas aquilo de que me lembro melhor é da garrafa verde escura e do sabor da maçã na CARBO SIDRAL. Pena que já não há.
O seu nome é quase de ficção científica... digam devagarinho caaaarrrrbbboooo siiiiiideeeeraaaallll.... qualquer coisa com compostos carbónicos do espaço sideral, que fazem cócegas no céu da boca....

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Arrumos



Guardar tudo o que gostamos e recolhemos ao longo da vida pode tornar-se um problema sério.
A certa altura o espaço é ocupado pelas caixas e caixotes, pelas ventoinhas, pelos jogos, pelas embalagens antigas, pelos cartazes antigos, pelas rádios, pelas televisões de plástico, pelos brinquedos antigos, pela roupinha das meninas que usaram em bébé, pelos seus desenhos todos, pelos livros, pelos livros, pelos livros porque os livros não se deitam fora e um dia vamos ter uma vontade muito urgente de o abrir e mergulhar neles outra vez...
É mesmo um problema quando as coisas estão ali, a olhar para nós com uma história que nós conhecemos...

sábado, 27 de março de 2010

A casa da dona Malafaia


Era verão e a prioridade era uma casa junto ao mar num local tranquilo. A gravidez já ia adiantada e com a rotina dos enjoos matinais, era necessário poupar todos os esforços nos percursos para a praia. Percorremos grande parte da costa alentejana até descobrirmos esta casa na Lagoa de Santo André. A proximidade do mar, da lagoa e a magnífica vista do terraço não nos deixaram quaisquer dúvidas na nossa escolha.

No ano seguinte, já a Alice tinha nascido e como criança precoce que sempre foi, foi nesta casa que deu os seus primeiros passos em cima de uma mesa instalada no exterior. Segurávamos nas suas mãozitas e lá ia ela duma ponta à outra sem grandes hesitações e sempre a querer chegar mais depressa à extremidade oposta para daí saltar e aterrar suavemente com a nossa ajuda.
As duas semanas passaram rapidamente e resolvemos falar com a D. Malafaia, para que nos próximos anos, aquela passasse a ser a nossa casa de férias de verão. E assim foi durante cerca de 6 anos. Esta história seria igual a muitas outras, não fosse o facto de uns anos depois, quando estava a falar com os meus sogros sobre esta casa ficarmos a saber que também eles ali tinham passado férias. Eles conheciam o nome da D. Malafaia e relebraram que foi ela que lhes alugou a casa. Na altura em que lá estiveram, também a minha sogra estava grávida (da minha mulher) e quando voltaram no ano seguinte, foi ali a minha mulher deu também os seus primeiros passos. Sempre encontrei nesta coincidência um sentimento agradável, como algo que faz sentido e nos faz bem... mas eu na altura andava fascinado com os livros do Paul Auster.

Um dia, estavamos os três (4 pois a pantera cor de rosa também tinha ido) na praia a olhar o sol desaparecer atrás do mar, quando a Alice nos abraça e diz "Sou tão feliz...". Aquilo que pode parecer um postalinho piroso duma família babada com a sua filhota, é tão mais importante para nós como o sentimento abstracto de uma criança que ainda não tinha dois anos mas que se sentia, segundo ela, feliz.

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Bitoque


A Carlota comprou um carro amarelo. Um Ford Taunus já com uns anos mas ainda em bom estado. Pelo menos assim aparentava. Todos queriam experimentar o carro. Era uma viatura fantástica e talvez por não estávamos habituados a ter carro, para o grupo essa sensação era enorme. O melhor carro do mundo era nosso, e mais... era amarelo. O namorado da Carlota lembrou-se de lhe chamar Bitoque em homenagem ao ovo a cavalo...Não tem muita lógica, mas o nome era giro.

As saídas à noite já não eram a mesma coisa, agora não era preciso esperar pelo primeiro autocarro da manhã depois das saídas ao Bairro Alto. A Carlota nunca bebia por isso a ida e a vinda eram sempre muito seguras. Todos contribuíamos com o dinheiro da gasolina. Foram algumas semanas de loucura vertiginosa naquela magnifica máquina. Naquela idade, achavamos que podíamos fazer qualquer coisa e quando digo qualquer coisa é mesmo tudo, até aquilo que hoje parece impossível. Desde sair pela janela de trás do carro a 120 à hora e entrar pelo outro lado passando por cima do tejadilho e sentir o vento fresco da noite na cara a dar-nos alguma lucidez para não soltar as mãos do frio metal, até que alguém nos ajudava a entrar pelo outro lado.

Passado algum tempo, o carro começou a apresentar problemas de motor . Na oficina o diagnóstico "era qualquer coisa nos segmentos"... Aquilo para nós era grave, apesar do desconhecimento geral em termos de mecânica. Afinal o carro tinha os seus dias contados e a nossa revolta começou aí. O vendedor era um um tipo seboso, barrigudo e a cheirar a alho e nós fomos uns patinhos que compraram um carro condenado e que só valia o seu peso em ferro.

O namorado da Carlota já trabalhava e tinha um emprego numa companhia de seguros onde aprendeu os segredos do ofício e que foram preciosos num plano magnífico e esquematizado por ele e que basicamente, consistia em fazer desaparecer o carro e apresentar queixa do seu desaparecimento à polícia de modo a podermos participar à companhia e receber o dinheiro do seguro. Claro que o que ele queria era, no fundo, ser mais esperto que o seboso do vendedor de automóveis que lhe tinha vendido um chaço.
Incendiar o carro foi logo avançado pelo Nandinho, que de jeito na cabeça, só tinha uma popa que fazia muita inveja a muitos rockabillys das redondezas. Mas os problemas foram logo levantados pelos tipos mais ajuizados; o fogo podia propagar-se a outros carros, era perigoso usar gasolina e fósforos, etc etc etc.

O carro acabou por desaparecer algures numa rua escura da cidade. A participação foi feita e o seguro cobria o roubo. O carro foi encontrado e convenientemente explicado que o motor estava arruinado, tinha qualquer coisa nos segmentos, e que não tinha arranjo.

Um dia, estávamos todos em casa do namorado da Carlota como habitualmente, quando alguém toca à campainha. Já tinha passado algum tempo sobre este incidente e por isso ninguém pensaria que os dois homens de fato que seguravam pelo braço um adolescente de olhar assustado, fossem falar disso outra vez... Mas a surpresa foi ainda maior quando nos disseram que aquele rapaz afirmava ter roubado um carro amarelo, igualzinho ao nosso "bitoque".

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

As Pedras


Neste lugar, no topo desta pedra, nesta aldeia que cresceu aqui, numa montanha da Serra de Montemuro, fotografei as mais importantes mulheres da minha vida. Foi nesta aldeia, que passei grande parte da minha infância com os meus irmãos e os meus primos.
No verão, nos dias compridos, estas pedras ficavam quentes pelo sol. Muitas vezes, depois de jantar deitávamo-nos em cima delas e ficávamos a conversar pela noite dentro, sentindo o seu calor no nosso corpo. Como se fossem animais gigantes de corpos serenos e quentes que nos protegiam das histórias que gostavamos de contar e dos medos que nos afligiam.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

A FÁBRICA DE SONHOS




Foi com grande espanto que hoje de manhã reparei neste fenómeno natural que acontecia no Hospital Júlio de Matos. O meu espanto foi maior em função da minha descoberta... afinal é aqui que nascem os arco-íris... temos andado a procurar nos locais errados.