sábado, 27 de março de 2010

A casa da dona Malafaia


Era verão e a prioridade era uma casa junto ao mar num local tranquilo. A gravidez já ia adiantada e com a rotina dos enjoos matinais, era necessário poupar todos os esforços nos percursos para a praia. Percorremos grande parte da costa alentejana até descobrirmos esta casa na Lagoa de Santo André. A proximidade do mar, da lagoa e a magnífica vista do terraço não nos deixaram quaisquer dúvidas na nossa escolha.

No ano seguinte, já a Alice tinha nascido e como criança precoce que sempre foi, foi nesta casa que deu os seus primeiros passos em cima de uma mesa instalada no exterior. Segurávamos nas suas mãozitas e lá ia ela duma ponta à outra sem grandes hesitações e sempre a querer chegar mais depressa à extremidade oposta para daí saltar e aterrar suavemente com a nossa ajuda.
As duas semanas passaram rapidamente e resolvemos falar com a D. Malafaia, para que nos próximos anos, aquela passasse a ser a nossa casa de férias de verão. E assim foi durante cerca de 6 anos. Esta história seria igual a muitas outras, não fosse o facto de uns anos depois, quando estava a falar com os meus sogros sobre esta casa ficarmos a saber que também eles ali tinham passado férias. Eles conheciam o nome da D. Malafaia e relebraram que foi ela que lhes alugou a casa. Na altura em que lá estiveram, também a minha sogra estava grávida (da minha mulher) e quando voltaram no ano seguinte, foi ali a minha mulher deu também os seus primeiros passos. Sempre encontrei nesta coincidência um sentimento agradável, como algo que faz sentido e nos faz bem... mas eu na altura andava fascinado com os livros do Paul Auster.

Um dia, estavamos os três (4 pois a pantera cor de rosa também tinha ido) na praia a olhar o sol desaparecer atrás do mar, quando a Alice nos abraça e diz "Sou tão feliz...". Aquilo que pode parecer um postalinho piroso duma família babada com a sua filhota, é tão mais importante para nós como o sentimento abstracto de uma criança que ainda não tinha dois anos mas que se sentia, segundo ela, feliz.