quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

4L

A minha era branca e tenho muitas saudades dela.
Numas férias de Verão, levei-a à República Checa, ao local onde ela tinha nascido... Ficámos ligados para sempre... e a verdade é esta, sempre que vejo uma... lembro-me dos bons tempos que passámos juntos.
Ela nunca fechava as portas a ninguém... e a prova disso é que, um dia, uma vizinha que tinha problemas de sono e passava as noites à janela a olhar para a rua, contou-me que alguém dormia na minha carrinha. A senhora era casada com um agente da autoridade e talvez por isso, desenvolveu capacidades de vigilância nocturna. Perante tal notícia, não manifestei qualquer espanto nem desagrado com a situação. O choque surtiu efeito e se a senhora já achava que aquilo era uma situação estranha, mais terá pensado do facto de eu não me importar. A verdade é que eu já suspeitava que alguém passava as noites dentro da minha viatura. Lembro-me de ter comentado com a minha mulher e ela ter feito uma comparação com uma história do Peter Handke em que um miúdo se pergunta porque é que as pessoas não deixam as portas dos carros abertas para que quem está cansado, possa entrar e descansar. A nossa carrinha era assim e nós gostávamos.
A verdade é que ele também a estimava. O nosso inquilino da 4L, tinha o cuidado de não deixar nenhum vestigio da sua presença... mesmo quando eu lhe deixava um pacote de bolachas no banco de trás... nunca comia mais do que duas ou três e deixava sempre o banco limpinho. Sempre achei que fazíamos uma permuta de serviços, a 4L dava-lhe abrigo e ele garantia-me que ninguém me roubava o meu carro.