domingo, 21 de fevereiro de 2010

Bitoque


A Carlota comprou um carro amarelo. Um Ford Taunus já com uns anos mas ainda em bom estado. Pelo menos assim aparentava. Todos queriam experimentar o carro. Era uma viatura fantástica e talvez por não estávamos habituados a ter carro, para o grupo essa sensação era enorme. O melhor carro do mundo era nosso, e mais... era amarelo. O namorado da Carlota lembrou-se de lhe chamar Bitoque em homenagem ao ovo a cavalo...Não tem muita lógica, mas o nome era giro.

As saídas à noite já não eram a mesma coisa, agora não era preciso esperar pelo primeiro autocarro da manhã depois das saídas ao Bairro Alto. A Carlota nunca bebia por isso a ida e a vinda eram sempre muito seguras. Todos contribuíamos com o dinheiro da gasolina. Foram algumas semanas de loucura vertiginosa naquela magnifica máquina. Naquela idade, achavamos que podíamos fazer qualquer coisa e quando digo qualquer coisa é mesmo tudo, até aquilo que hoje parece impossível. Desde sair pela janela de trás do carro a 120 à hora e entrar pelo outro lado passando por cima do tejadilho e sentir o vento fresco da noite na cara a dar-nos alguma lucidez para não soltar as mãos do frio metal, até que alguém nos ajudava a entrar pelo outro lado.

Passado algum tempo, o carro começou a apresentar problemas de motor . Na oficina o diagnóstico "era qualquer coisa nos segmentos"... Aquilo para nós era grave, apesar do desconhecimento geral em termos de mecânica. Afinal o carro tinha os seus dias contados e a nossa revolta começou aí. O vendedor era um um tipo seboso, barrigudo e a cheirar a alho e nós fomos uns patinhos que compraram um carro condenado e que só valia o seu peso em ferro.

O namorado da Carlota já trabalhava e tinha um emprego numa companhia de seguros onde aprendeu os segredos do ofício e que foram preciosos num plano magnífico e esquematizado por ele e que basicamente, consistia em fazer desaparecer o carro e apresentar queixa do seu desaparecimento à polícia de modo a podermos participar à companhia e receber o dinheiro do seguro. Claro que o que ele queria era, no fundo, ser mais esperto que o seboso do vendedor de automóveis que lhe tinha vendido um chaço.
Incendiar o carro foi logo avançado pelo Nandinho, que de jeito na cabeça, só tinha uma popa que fazia muita inveja a muitos rockabillys das redondezas. Mas os problemas foram logo levantados pelos tipos mais ajuizados; o fogo podia propagar-se a outros carros, era perigoso usar gasolina e fósforos, etc etc etc.

O carro acabou por desaparecer algures numa rua escura da cidade. A participação foi feita e o seguro cobria o roubo. O carro foi encontrado e convenientemente explicado que o motor estava arruinado, tinha qualquer coisa nos segmentos, e que não tinha arranjo.

Um dia, estávamos todos em casa do namorado da Carlota como habitualmente, quando alguém toca à campainha. Já tinha passado algum tempo sobre este incidente e por isso ninguém pensaria que os dois homens de fato que seguravam pelo braço um adolescente de olhar assustado, fossem falar disso outra vez... Mas a surpresa foi ainda maior quando nos disseram que aquele rapaz afirmava ter roubado um carro amarelo, igualzinho ao nosso "bitoque".

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

As Pedras


Neste lugar, no topo desta pedra, nesta aldeia que cresceu aqui, numa montanha da Serra de Montemuro, fotografei as mais importantes mulheres da minha vida. Foi nesta aldeia, que passei grande parte da minha infância com os meus irmãos e os meus primos.
No verão, nos dias compridos, estas pedras ficavam quentes pelo sol. Muitas vezes, depois de jantar deitávamo-nos em cima delas e ficávamos a conversar pela noite dentro, sentindo o seu calor no nosso corpo. Como se fossem animais gigantes de corpos serenos e quentes que nos protegiam das histórias que gostavamos de contar e dos medos que nos afligiam.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

A FÁBRICA DE SONHOS




Foi com grande espanto que hoje de manhã reparei neste fenómeno natural que acontecia no Hospital Júlio de Matos. O meu espanto foi maior em função da minha descoberta... afinal é aqui que nascem os arco-íris... temos andado a procurar nos locais errados.