A hora do lobo chegou. Uivemos todos por ele.

A sua voz acompanhou-me durante anos. Quando voltava da escola e não tinha aulas de tarde ía ter com o meu amigo João, à loja do seu pai, e ficávamos a conversar e a ouvir o SOM DA FRENTE. Aprendi muito sobre música com ele. Aprendi a gostar de música com ele. Vivi muito tempo embalado na sua música e na sua voz. Adormeci muitas vezes de rádio ligado, na sua companhia. Muitas vezes, juntavamo-nos nas escadas da casa de amigos, para ouvir os seus programas mais tardios. Na penumbra, a sua voz e a sua música eram amplificados e ecoavam pelo espaço, junto das portas onde os nossos pais estavam a dormir depois de mais um dia de trabalho na cidade. Embrenhados na sua música e na sua voz fomos muitas vezes transportados para locais muito longe das nossas casas. Eram lugares bonitos e onde nos sentíamos bem. Hoje, vamos cada vez menos a esses lugares.
Na sua voz existia uma força enorme, um grito de coragem, um sentir abstracto de que tudo, afinal, estava no lugar certo e fazia sentido.
O António Sérgio vai continuar comigo e com todos os amantes da rádio. Todos aqueles que o ouviram durante décadas. Aquilo que nos ficou é muito mais forte do as imagens que poucas vezes tivemos dele. Quem diz que a rádio não tem imagens? O que é isto que eu vejo, dentro da minha cabeça?

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