O que eu vejo a partir da EN 321


A estrada que liga Castro Daire a Cinfães passa por aqui. Faifa, fica por trás do primeiro monte, em plena serra de Montemuro. Hoje é um pequeno lugar quase deserto. No verão ainda recebe os filhos e amigos dos últimos residentes da aldeia. É um lugar de muitas memórias, pois apesar de os meus pais terem vindo com a família trabalhar para Lisboa quando eu tinha apenas 6 meses, foi aqui que passei todas as minhas férias grandes até aos 12 anos.
Foi aqui que aprendi a usar uma fisga, a construir um trenó, a subir às árvores, a treinar um cão, a assobiar e onde acima de tudo, aprendi a viver com as histórias do meu avô.

Uma vez contou-me uma história que se tinha passado nos anos quarenta, possivelmente durante a segunda grande guerra, quando um avião se despenhou nestes montes. Foi ele a primeira pessoa a chegar ao local do acidente e a ver o sucedido, pois andava no monte com as suas cabras. O avião estava em chamas e o piloto apresentava muitas queimaduras e arrastava-se pelo chão. O meu avô contou-me que não percebia nada do que o piloto dizia (ainda hoje não sei se era alemão ou inglês). Lembro-me de que quando me contou a história aquilo era muito importante mim, e lembro-me de ter ficado chateado pelo facto de ele não saber, pois as brincadeiras dos Nazis e da Resistência estavam muito na moda na altura e eu cá era da Resistência e se por acaso aquele homem fosse um boche, eu nunca o teria ajudado. Mas ele podia ser inglês... e isso não foi importante para o meu avô, pois a única coisa que importava era ajudar aquele pobre homem que estava em muito mau estado. Ficou ali com o homem nos braços até chegar ajuda àquele local deserto. O que é certo é que passadas algumas horas, chegaram uns homens que levaram o ferido numa maca para o local onde a ambulância tinha ficado.
O meu avô contou-me com muito orgulho, que um homem de fato, lhe pediu para tomar conta dos destroços do avião até que uma equipa o pudesse vir buscar. Ficou ali quinze noites, sozinho no monte, iluminado por uma pequena fogueira e na companhia das estrelas.
Sempre achei fantástico o facto de o meu avô, viver numa terra tão pequena, num sítio isolado, ter dado o seu contributo para o salvamento de um soldado na possível segunda grande guerra. Mesmo que o soldado fosse alemão.

Comentários

Enviar um comentário

Mensagens populares deste blogue

CARBO SIDRAL A BEBIDA GENIAL

Pairar tem qualquer coisa de pai e de ar